Entrevistas com e Sobre o Autor

Entrevista com Whisner Fraga

Entrevista com André Rocha

Entrevista com Edson Bráz da Silva

Entrevista com Ivo Barroso

Entrevista com Marcelo Serodre

De outros e Diversos

Entrevista com o autor Milton Rezende para o canal "Acontece nos livros", de Whisner Fraga

P: Canal Acontece nos Livros - Whisner Fraga.
Milton, fale um pouco sobre o seu processo criativo.

Meu projeto literário, enquanto planejamento, pode-se dizer que iniciou com a publicação do meu primeiro livro O Acaso das Manhãs (1986). Comecei a escrever aos 13 anos de idade, mas eram esboços, etapas de um aprendizado. Eu enchia cadernos e mais cadernos com manuscritos e depois várias pastas datilografadas, mas aos 20 anos queimei todos eles, pois achava que já era hora de encarar a literatura mais a sério.

Entretanto, de vez em quando, retornam à minha memória alguns daqueles versos e eu sinto nostalgia daquela espontaneidade que o tempo fez questão de sepultar. Eu lia muito por esta época, mais do que eu leio atualmente e meus autores preferidos foram se consolidando até chegar a esta tríade que me acompanha até hoje: Drummond, Fernando Pessoa e Augusto dos Anjos.

Mas há outros, não menos importantes, como o Manuel Bandeira, o Graciliano Ramos, Edgar Alan Poe, H.P. Lovecraft, entre tantos.

Eu reviso muitas vezes os meus escritos, acho isso fundamental, principalmente para autores que, como eu, não submete os seus textos a ninguém antes de serem publicados. portanto eles não devem ter palavras faltando nem sobrando e esta é a minha única medida. Mas mesmo assim é preciso esperar algum tempo pela decantação do texto porque “a literatura é a emoção recolhida em tranquilidade”, no dizer do autor inglês W. Wordsworth.

E entendo a literatura como registros, retratos de si, pistas que deixamos como pegadas na areia de uma posteridade que, provavelmente, ninguém irá notar.

Quanto a linguagem eu prefiro uma que seja enxuta, direta, sem rodeios. “sua forma de escrever é ácida, sem concessões. seus poemas são mordazes, incrivelmente corajosos. ele nunca poupa a si mesmo nem ao mundo. Milton vem da melhor tradição da poesia e prossegue com ela” (M.S).

Os meus temas predominantes são a solidão, o amor e a morte. Tudo o que foi retido no território bruto e confuso da memória, reminiscências, revolta e um pouco de ternura.

Minhas preferências são várias, mas de um modo específico, muitas delas giram em torno da morte, dos cemitérios, figuras estranhas e insólitas permeadas por um fator sobrenatural e um fator filosófico. Como de resto em toda a minha poética, esses fatores.

Em 2013 foi defendida e aprovada pela Universidade Federal de Juiz de Fora e depois, já em 2015, publicada em livro a dissertação de mestrado de Maria José Rezende Campos intitulada “Tempo de poesia: intertextualidade, heteronímia e inventário poético em Milton Rezende”, constituindo assim na primeira publicação a tratar da fortuna crítica do autor.

Finalmente eu tenho ainda mais alguns, poucos, projetos literários na cabeça, pelo menos em esboço que espero concluir. De qualquer forma pretendo chegar a um ponto onde eu possa pelo menos suster o meu processo criativo e dar por encerrada a minha atividade literária. Talvez mais uns três volumes e já estará de bom tamanho. Ainda nesse ano de 2023 espero publicar o meu livro “Da Essencialidade da Água” e depois, quem sabe conseguir publicar a minha “Obra Completa – Literária II”. Feito isso ficará faltando, eu acho, mais um único livro “O Outro Lado do Escuro” para eu encerrar. Ciao!

Gênese: neste texto eu digo “autores que, como eu, não submete os seus textos a ninguém antes de serem publicados.”

Isso, no meu caso, é mesmo verdade, exceção feita a “Mais uma xícara de café”. A composição e a escrita deste livro foi algo sui generis que, em mim, não vai se repetir. Mesmo porque, por problemas de saúde, hoje eu já não bebo e tudo o que escrevo é “a frio”.

Escrevi “Mais uma xícara de café”, como digo no próprio decorrer do livro, basicamente sob os efeitos do álcool no organismo. Numa espécie de escrita que obedecia unicamente ao fluxo da consciência ou da sua inconsciência. Eu pretendia colocar em prática uma espécie de “escrita automática”, algo assim como abrir “As Portas Percepção” como o fez o Aldous Huxley. Pois bem, fiz isso em geral no livro todo, mas é claro que no dia seguinte, sóbrio, eu relia todo o trecho e fazia meus apontamentos, correções, revisões e mesmo supressões ou alterações no texto escrito na noite anterior. Mas mantendo a sua essência, o seu fluxo e ritmo próprios.

Naturalmente, depois do original pronto, eu estava confuso e inseguro quanto ao resultado final. Se teria qualidades a ponto de eu decidir publicá-lo.

Assim sendo, pela primeira e única vez eu resolvi submetê-lo à opinião alheia na pessoa do poeta e escritor conterrâneo Marcelo Serodre, então meu amigo e a quem eu prezava sobremaneira a sua opinião literária. Não sem razão.

Então ele, após a leitura, escreveu-me um e-mail desancando o meu original, apontando-lhes inúmeros defeitos. Foi como um balde de água fria. Mas como eu respeitava seus conceitos e opiniões tive que agradecer-lhe pela leitura e os “palpites” que dera. Alguns eu achara pertinentes e outros nem tanto. Isso foi alguns anos antes de 2006/2007, quando da sua redação final e definitiva.

Coloquei os originais na gaveta para decantação e amadurecimento em mim. Lendo-o e relendo-o várias e repetidas vezes eu lhe achava qualidades apesar dos muitos defeitos. Resolvi então colocar as mãos na massa e modificar e reescrever alguns trechos ou passagens. Fiz um trabalho consciente e meticuloso e considerei-o “quase pronto” e acabado. E quando eu considero alguns dos meus livros prontos e acabados eu não mexo mais neles e essa segunda versão eu submeti à apreciação do grande poeta e tradutor Ivo Barroso, meu amigo e também conterrâneo de Ervália, Minas Gerais.

Dessa sua leitura e apreciação ainda surgiram pequenos ajustes aqui e acolá que eu fiz, mandando-o para a editora e ser, finalmente, publicado. Isso já era o ano de 2017. Portanto um longo percurso e espera que valeram a pena, pois foi muito bem recebido a ponto de o consagrado Ivo Barroso chama-lo de “livrão”. Assim o “Mais uma xícara de café” finalmente veio a lume.

Entrevista com André Rocha

Como se deu seu primeiro contato com a obra do autor Milton Rezende?

Foi no dia 25 de setembro de 1981 que conheci Milton Rezende, quando estávamos sendo empossados no cargo de Mensageiro da MinasCaixa, em Juiz de Fora. Casualmente conversamos sobre alguns assuntos e, em determinado momento, ele disse que escrevia. A partir daí passamos a conversar mais sobre literatura e ele me apresentou seus manuscritos que, na época, eram escritos a caneta mesmo ou datilografados. Cinco anos depois ele publicou seu primeiro livro, O Acaso das Manhãs.

Você identifica em algum dos livros que ele já publicou características românticas como o spleen?

Não é essa característica que predomina no conjunto da obra. Seus dois primeiros livros, O Acaso das Manhãs e Areia: à Fragmentação da Pedra são mais identificadas com a vanguarda ou modernismo brasileiro. Mas existem ecos do romantismo, só que sem o decadentismo que marca o spleen. Já Uma Escada que Deságua no Silêncio, A Sentinela em Fuga e Inventários de Sombras, seus livros mais recentes têm esta presença do romantismo decadentista francês, que foi influenciado por Edgar Allan Poe, e teve no Brasil, como expoente, Cruz e Souza. Ao mesmo tempo, há influência do pré-simbolismo de Augusto dos Anjos em várias imagens. Logo, existem as características românticas, mas muito diluídas no conjunto da obra.

É possível identificar, ainda, no estilo de escrita, ou em algum poema específico características deste período literário?

No estilo de escrita, não. Os versos de Milton Rezende são livres, enquanto o romantismo e o pré-simbolismo primavam por formas mais ritmadas. No caso do estilo, a identificação está com Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade.

Para você qual o aspecto mais significativo nas obras do autor Milton Rezende?

Como já dito, forte influência de Fernando Pessoa e Drummond, na forma escrita. Quanto ao conteúdo, uma angústia existencial que lembra a literatura da primeira metade do século XX.

Para você, qual é a função do escritor?

Não sei se esta pergunta se refere ao escritor Milton Rezende ou a todos os escritores. Então, vou responder qual a função de todo escritor. Stephen King disse que a função do escritor é contar uma história. Eu concordo com isto e digo mais: a função do escritor é contar uma história de forma escrita.

Com o fácil acesso à internet, tornou-se mais fácil para um autor divulgar seu trabalho. Você considera que houve uma banalização da literatura por causa disso?

Pelo contrário. Muitas pessoas diziam que a Internet iria acabar com a literatura. Tem gente que diz isso até hoje. A Internet possibilita uma maior divulgação dos trabalhos. Claro que existem escritores de várias qualidades, mas isto sempre existiu. Pessoas competentes e incompetentes existem em qualquer área, e na literatura isto não poderia ser diferente. Cumpre ao leitor se identificar com este ou aquele autor de sua preferência.

O que você considera necessário para que um autor se sobressaia entre os outros?

Quem dera se eu soubesse a resposta para isto. O trabalho literário se diferencia das demais áreas por este aspecto: não é a qualidade que conta, caso contrário não teriam tantos escritores de qualidade morrendo desconhecidos e até mesmo anônimos. Por outro lado, um escritor medíocre pode até se sobressair em determinado momento, mas sua “glória” dura pouco. Na minha opinião o que conta é sorte.

Fale sobre o autor Milton Rezende e sua obra.

Em termos pessoais, Milton Rezende é um dos dois únicos amigos que tenho (o outro é Jesus Cristo). Quanto ao autor, é sério e persiste na literatura, quando muitos desistiram. A persistência pode gerar o sucesso, claro. Quanto à sua obra, ela se confunde com sua vida. Milton Rezende escreve sobre aquilo que conhece. Veja o que ele disse há muitos anos (para falar a verdade, no século passado): “sempre amei como quem cometia um assassinato premeditado, que cobria várias fases de planejamento e execução”. Isto revela o homem revoltado conforme a concepção de Albert Camus, ou seja, um homem que se opõe à ordem que o condena à morte desde o nascimento. Desta inquietude surge seu impulso criativo que vem se aprimorando a cada publicação.

Entrevista com Edson Bráz da Silva

Como se deu seu primeiro contato com a obra do autor Milton Rezende?

Eu o conheci na faculdade de Letras, na UFJF. Começamos o curso juntos, e o abandonamos também praticamente juntos, fizemos amizade, e a partir daí foi muita troca de informações literárias. Aprendi muito com ele, a quem sempre venerei.

Você identifica em algum dos livros que ele já publicou características românticas como o spleen?

Sim. É visível em sua obra uma proximidade temática com o spleen, pois a morte é tema recorrente em seus poemas desde os primórdios de sua escrita, embora de forma um pouco diversa do romantismo, pois para Milton Rezende ela faz parte da vida, ronda não apenas a sua vida, mas também a de todos nós. Sem lamúrias e choramingos, ele está sempre nos lembrando que ela está a nossa volta, como num sutil filme de terror. A morte não é fuga, ou solução, mas talvez apenas evidência da precariedade da vida.

É possível identificar, ainda, no estilo de escrita, ou em algum poema específico características deste período literário?

Penso que não, pois é um estilo literário que não é do agrado dele, cuja influência que se pode identificar, a meu ver, se resume à temática funesta.

Para você qual o aspecto mais significativo nas obras do autor Milton Rezende?

A radicalidade literária, a total entrega à literatura e à poesia em especial. Kafka disse que “tudo o que não é literatura me aborrece”, palavras que se encaixam perfeitamente no perfil do poeta Milton.

Para você, qual é a função do escritor?

Já tive discussões intermináveis com o Milton sobre isso, quando eu acreditava que o poeta poderia e deveria salvar o mundo. Ele me convenceu que o escritor deve apenas escrever, e tentar fazer isso da melhor forma possível. Nada mais.

Com o fácil acesso à internet, tornou-se mais fácil para um autor divulgar seu trabalho. Você considera que houve uma banalização da literatura por causa disso?

Em maior ou menor grau, o escritor sempre procurou um jeito de mostrar sua obra, e encontrou. Mas, apenas a qualidade prevaleceu. Só o tempo dirá quem tem qualidade.

O que você considera necessário para que um autor se sobressaia entre os outros?

Não vejo necessidade de “sobressair”. Um escritor tem que escrever e mostrar sua obra, apenas isso.

Fale sobre o autor Milton Rezende e sua obra.

Grande poeta, de obra densa, intrigante, que não permite a indiferença ou muxoxo quando é lida. Poeta definitivo, que diz o que quer dizer, sem reticências, sem rodeios, porém sem desperdiçar palavras, sem jogar ao ar blasfêmias estéreis, sem pirotecnia. Às vezes é seco como Drummond, tétrico com Edgar Alan Poe, mortal com Augusto dos Anjos, sensitivo como Fernando Pessoa, mas é sempre Milton Rezende, o que disse que “somos apenas alguns/ao redor de uma mesa/ou de um pensamento/e nos amamos com receio”, em seu segundo livro (Areia – À fragmentação da pedra – 1989) e que hoje nos ensina a fazer poesia: “Não se deve fazer/poesia com eu faço/Poesia é certeza de conceitos, /de imagens e eu não sei/ de nada apenas acho. ” (A sentinela em fuga e outras ausências – 2011). Convém não levar em conta esta lição, pois deve-se sim, fazer poesia como Milton Rezende faz. Poesia da melhor qualidade.

Entrevista com Ivo Barroso

Como se deu seu primeiro contato com a obra do autor Milton Rezende?

Recebi um livro de versos do Milton Rezende e fiquei alegre em saber que ele era meu conterrâneo, de Ervália. Publiquei em meu blog Gaveta do Ivo uma pequena resenha sobre o livro e trocamos vários e-mails, com isto estabelecendo vínculos de amizade virtual, já que não nos conhecemos pessoalmente até hoje. Incentivei-o a continuar escrevendo poesia em vista da qualidade dos poemas que me mandou e incentivei-o também a escrever um livro sobre a história de nossa terra. 

Você identifica em algum dos livros que ele já publicou características românticas como o spleen?

Eu diria que na poesia dele podemos identificar mais traços de angústia existencial do que de spleen.

É possível identificar, ainda, no estilo de escrita, ou em algum poema específico características deste período literário?

Qual? O romantismo? Milton é poeta moderno e seu lado sentimental é expresso de forma a evitar quaisquer transbordamentos.

Para você qual o aspecto mais significativo nas obras do autor Milton Rezende?

Sua preocupação com o sentido da existência e o destino do homem.

Para você, qual é a função do escritor?

A função do escritor é escrever não importa o que. Sou contra a literatura engajada.

Com o fácil acesso à internet, tornou-se mais fácil para um autor divulgar seu trabalho. Você considera que houve uma banalização da literatura por causa disso?

Creio que houve um grande equívoco; surgiram milhares de poetas divulgando doidamente seus escritos sem terem a menor noção do que seja poesia. Mas a Internet é de grande utilidade para o conhecimento de obras importantes a que o leitor não teria possibilidades de acesso ou condições de adquiri-las.

O que você considera necessário para que um autor se sobressaia entre os outros?

Talento.

Fale sobre o autor Milton Rezende e sua obra.

Milton já publicou quatro livros de poesia e agora demonstra sua capacidade também na prosa com Textos e Ensaios.

Entrevista com Marcelo Serodre

Como se deu seu primeiro contato com a obra do autor Milton Rezende?

No meu caso conheço a poesia do Milton desde sempre, pois começamos a escrever praticamente na mesma época do colégio e mostrávamos os poemas um para o outro.

Você identifica em algum dos livros que ele já publicou características românticas como o spleen?

Realmente, em todos os livros há esse tom de spleen, um tom mordaz de uma poesia urbana, herdado naturalmente, e até subconscientemente, de Baudelaire. Mas poetas como Álvares de Azevedo, Augusto dos Anjos e escritores como Lovecraft e Edgar Alan Poe exerceram um papel muito importante na formação artística do Milton.

É possível identificar, ainda, no estilo de escrita, ou em algum poema específico características deste período literário?

Sim, podemos identificar muito facilmente essas características em muitos poemas de qualquer um dos livros. Para exemplificar poderíamos citar o poema "Saldo" de "O Acaso das Manhãs". Devo dizer que há muitas outras facetas importantes na produção poética do Milton. Mas a busca, a condução, a extrema capacidade do poeta de lidar com temas de um desespero lúgubre e até macabro, fazem dele um poeta singular de muita força.

SALDO

De cotidianos resíduos
arrancados na solidão de prisioneiro
em que todo meu ser se devora,
tento compor uma imagem humana
que me faça aceitável a mim mesmo.

No silêncio da morte aparente
na qual me recolho ao túmulo previsto
não sei com que ânsia mórbida de calma,
procuro juntar os cacos de culpa diária
que reunidos formam um apelo ao suicídio.

E não é só o remorso das manhãs doentias
pelo que na noite se desfez em delírios
de humana fraqueza cansada de si mesma,
é todo um saldo de perdas que tenho que fazer
e lançar no cômputo geral das misérias minhas.

De cotidianos resíduos
recolhidos no isolamento mental de indivíduo
em que todo o meu ser se liberta,
tento compor uma imagem poética
que se faça de ideias e despreze a vida.
(REZENDE, O acaso das manhãs. p.11)

Para você qual o aspecto mais significativo nas obras do autor Milton Rezende?

Como eu disse acima o tema da morte e da precariedade são a substância da obra. É claro que também, como em tantos poetas, a solidão, a renúncia, a raiva, o desacato à sociedade, a impossibilidade de viver nessa sociedade, escondem sem esconder, o desejo profundo de amar e ser amado. Mas a técnica literária é muito boa.

Para você, qual é a função do escritor?

Não sei ao certo. Mas acho que o escritor não tem função. Para o verdadeiro escritor, escrever é uma necessidade, uma função em si. Se o escritor é bom é bom para os leitores que ele exista.

Com o fácil acesso à internet, tornou-se mais fácil para um autor divulgar seu trabalho. Você considera que houve uma banalização da literatura por causa disso?

Não. De forma alguma. Mudam os meios mas a literatura é incorruptível e sempre haverá escritores incorruptíveis. Aliás posso dizer o mesmo de todas as artes.

O que você considera necessário para que um autor se sobressaia entre os outros?

Necessário mesmo (mas jamais garantido) é dar a cara a tapa, sair, enfrentar e deixar a preguiça de lado, deixar de lado a timidez. Mostrar a obra para os outros. Mas a busca cega por sucesso é a coisa mais estúpida que um ser humano pode fazer. Se escrevemos é porque queremos mostrar o que escrevemos. Se pintamos é porque queremos mostrar o que pintamos. Mas sejamos sensatos, não é mesmo. Ou talvez totalmente insensatos!

Fale sobre o autor Milton Rezende e sua obra.

Falar sobre a Obra do Milton, para mim, é fácil, por isso mesmo falarei pouco. É uma obra que de certa forma acompanhou minha própria escrita durante toda vida. Gosto de todos os livros dele, mas gosto mais de "O Acaso das Manhãs" e de "Areia". Sua forma de escrever é ácida, sem concessões. Seus poemas são mordazes, incrivelmente corajosos. Ele nunca poupa a si mesmo nem ao mundo. Milton vem da melhor tradição da poesia e prossegue com ela.

UM CÃO

Um cão latindo na noite
é sempre um cão.
Sem cor, sem nome e sem
significado
para quem o está ouvindo.

No entanto este cão
traz em seu latido,
sombras de milhões de outros cães
sintetizados
em uníssono noite adentro.[...]
(REZENDE, O acaso das manhãs. p.12)

De outros e Diversos

UMA PALAVRA SOBRE O “DE ANDRADE”
O “De Andrade” entrou na minha vida em 2017, como Agente Literário, quando da publicação do livro “Mais uma Xicara de Café”. Surgiu de uma necessidade, uma vez que eu havia sofrido um derrame cerebral (AVC) em 2016 e tive meus movimentos do lado direito do corpo seriamente afetados. Se decidi publicar este livro logo em sequência, já no ano seguinte à “catástrofe”, eu precisava de um auxiliar direto que me ajudasse a dar uma formatação a esse projeto antes de enviá-los aos meus produtores e revisores habituais: Maria José Rezende Campos e Francisco de Assis Campos, que, inclusive, se encarregaram de preparar para publicação de meu outro livro no mesmo ano de 2017: “Um Andarilho Dentro de Casa”

E assim foi feito, o livro foi publicado e o resultado final me agradou; tanto que em 2019 para a publicação da miscelânea “A Casa Improvisada” convidei-o novamente para exercer aquelas mesmas funções e mais uma vez ele saiu-se bem dentro do que se esperava dele.
Agora para os derradeiros projetos que se avizinham, seja na minha “Antologia Poética – Literária I” já pronta e esperando para sair quando houver (sic) melhores condições de bolso e de pandemia, e que a vacina aplicada a todos os humanos nos torne imunes a esse autêntico pesadelo de final dos tempos.

Ou seja, na eventualidade de eu vir a concluir o livro “Da Essencialidade da Água” ou mesmo se eu for publicar a minha obra definitiva e última, em que pretendo reunir toda a minha produção poética nesses mais de trinta anos de atividade, qual seja, o livro “Obra Completa – Literária II”, reunindo todos os 7 ou 8 livros de poemas que eu escrevi na vida.

E mais não digo porque todos os novos projetos de criação, em mim, particularmente, sofreram um hiato e uma suspensão ou mesmo uma paralização definitiva, coisa que antes mesmo do caos se instalar em nossas vidas eu já estava deliberando de uma forma mais ou menos consciente.
Portanto, não será a pandemia a única responsável, se isso vier mesmo a acontecer. Só consolidou os indícios e a morte por covid-19 do amigo do poeta e escritor Edson Bráz da Silva e posteriormente a morte por infarto do poeta e tradutor Ivo Barroso representaram um baque e certamente deverá influir nos desdobramentos futuros, naturalmente se houver desdobramentos e principalmente se houver algum futuro.
No que concerne ao “De Andrade” isso acabou, mas não foi uma ruptura dramática, problemática ou mesmo causada por qualquer fator externo de desempenho ou de insatisfação dele ou minha. Veio naturalmente como consequência de um processo que se exauriu. Tenho o maior respeito pela sua pessoa e sou imensamente grato pelo papel que ele desempenhou nos dois dos meus livros mais recentes publicados.
TEMPO DE POESIA EM ÉPOCA DE REDES SOCIAIS
Por Patrick Ariel
Adquiri num evento de universidade o livro recém-lançado sobre o poeta Milton Rezende. Praticamente passou despercebido tanto o autor quanto os seus poemas e essa dissertação resgata esse lapso inconcebível e inicia a fortuna crítica do autor mineiro.

Trata-se do livro “Tempo de Poesia: Intertextualidade, Heteronímia e Inventário Poético em Milton Rezende”, da autora Maria José Rezende Campos, publicado através da Editora Penalux (2015).
O livro já nos pega pela capa que, segundo a autora, é a representação gráfica de um dos poemas do Milton: Obstáculos. Na contracapa, em meio às gotas de chuva do desenho, um comentário do consagrado Ivo Barroso, tradutor de Hesse, Rimbaud, entre tantos outros.

As orelhas trazem a apreciação do Prof. Luiz Fernando Medeiros de Carvalho, orientador da autora no mestrado em letras que resultou na presente publicação. O prefácio foi escrito por Anderson Pires da Silva e a apresentação traz a rubrica de Nícea Helena Nogueira, ambos conceituados professores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Por esse arcabouço já se pode perceber a excelência da presente e oportuna publicação acadêmica que, no entanto, nos prende pela coloquialidade dissertativa, tornando a leitura palatável e prazerosa desde o primeiro momento. Mérito, sem dúvida, da Maria José que soube “penetrar com denodo e carinho, os meandros mais intricados da obra do nosso Milton”.

O livro em questão é dividido em quatro partes ou eixos temáticos que versam sobre a intertextualidade, a heteronímia, o processo de criação e os espectros do Spleen encontrados no poeta Milton Rezende, que já possui nove livros publicados e completa agora, em 2016, trinta anos de estrada literária desde a publicação de “O Acaso das Manhãs”.

Repassemos então, em breves pinceladas, os capítulos ou temas estudados, pois temos a plena certeza que nenhum comentário substituirá a completa leitura do livro: como nos filmes em que a sinopse deve servir para aguçar ainda mais a vontade de ver todo o filme. Eu, Patrick Ariel, poeta inédito e estreante, ficaria satisfeito se os eventuais leitores das redes sociais (que conseguiram chegar até aqui) me acompanhassem até o final e fossem além, adquirindo um exemplar do livro e através da leitura e apreciação pessoal, tirassem as suas próprias ideias e conclusões.
Já ressentimos muito, desde algum tempo, a morte ou a mordaça das análises críticas nos órgãos de imprensa e a ausência daqueles grandes críticos literários que dissecavam autores e obras em grossos compêndios. Nos tempos de colégio achávamos aquilo maçante e hoje quantos de nós não daríamos tudo para ter de volta os antigos suplementos com seus artigos teóricos.

No primeiro capítulo a autora faz um apanhado geral sobre a intertextualidade em seu contexto histórico e correlaciona-a, em particular, com seu objeto de estudo, o poeta Milton Rezende e nos poemas em que ele adota tal procedimento que, em se tratando da poética contemporânea é bastante comum e corriqueiro, assim como o uso das epígrafes. A meu ver essa intertextualidade no autor estudado enriquece sobremaneira os seus escritos sob uma perspectiva dialética em paralelo com autores como Manuel Bandeira, Augusto dos Anjos e Drummond – verdadeiros ícones em que o poeta se espelha, reverenciando e enriquecendo com um olhar próprio e apropriado.

No capítulo seguinte é dada ênfase no estudo da heteronímia e, com originalidade, a autora Maria José nos revela um completo panorama deste recurso largamente empregado no fazer poético do Milton. Demonstra que os heterônimos deste autor dialogam com o próprio e entre si mesmos, o que, sem dúvida, é uma particularidade bastante interessante em se tratando do uso de heterônimos, que teve sua expressão máxima com o grande Fernando Pessoa. Aliás, a autora traça esse paralelo entre o poeta português e o fazer poético do Rezende, misto de funcionário público e celebridade rural escondido no anonimato das montanhas de Minas.

Na sequência vem uma análise da Maria José, engenheira da palavra e autora perspicaz que agora se depara e se debruça sobre o processo de criação do poeta mineiro, dissecando, discernindo e exemplificando com inúmeras poesias retiradas dos livros do autor, formando desde já uma breve antologia de poemas estudados que poderá ser usada como base para novos estudos, dela própria ou de outros aventureiros dispostos a levar adiante a tarefa de retirar o Milton do limbo acadêmico e levá-lo à apreciação de mais leitores.

No último capítulo, a autora se dedica a rastrear os indícios ou resquícios do Spleen na obra do autor, como se fossem espectros do romantismo ainda vivos e remanescentes na contemporaneidade dos temas abordados, tais como o subjetivismo e a morte. Para tanto faz um apanhado global da escola romântica vigente na segunda metade do século XIX e aborda autores como Álvares de Azevedo e sua correlação com a lírica atual e reinventada nas temáticas predominantes do poeta Milton Rezende.

Finalmente, para fechar o livro, há um apêndice e um anexo formado por diversas entrevistas com o próprio poeta (concedidas em diferentes períodos e contextos) e também com alguns escritores e poetas amigos, conterrâneos e/ou conhecedores da obra do autor de Ervália.

Dito isso, acho que só nos resta ler o livro da Maria José e, através dele, dar um passo e um impulso rumo à obra poética do Milton, descobrindo e desvendando novas sendas de fruição, percepção e compreensão da gênese literária empreendida por este “poeta de escrita tão refinada, familiar aos leitores da poesia moderna, mas ao mesmo tempo estranha aos leitores da atual poesia contemporânea”.

Texto do M'Bonga
My name is M’Bonga, representante dos povos originários do Brasil, aqui neste Congresso Internacional, Multicultural e Multirracial visando criar políticas de inclusão destas etnias minoritárias e nem por isso menos importantes num debate em que se pretende justamente discutir essas dicotomias propagadas ao longo dos séculos em que os índios foram relegados ao extermínio pela velha ordem excludente de se ignorar as minorias.

Então este congresso pretende exatamente discutir todas essas questões ancestrais e dirimi-las num contexto de congraçamento dessas muitas diferenças para que possam em uníssono reverberar todas essas peculiaridades de condições, aqui, neste congresso, em condições de igualdade e fraternidade.


Pois bem, durante estes debates que durariam toda uma semana eu pude conhecer e fazer contato com o De Andrade, que se apresentou como um ex-agente literário de alguns nomes de artistas e, dentre eles, o de ter sido agente literário do poeta e escritor mineiro Milton Rezende que eu já ouvira falar vagamente em seminários culturais que eu tinha participado.

Então, conversando com o De Andrade ele me contou que foi agente literário deste poeta em duas de suas obras, respectivamente, “Mais uma Xícara de Café” (one more cup of coffee) e “A Casa Improvisada”. Nos anos de 2017 e 2019, respectivamente.

Agora o já renomado escritor planejava escrever seu 17° livro (que ele diz ser o derradeiro), e que, para isso, ele iria precisar da figura de um agente literário, sobretudo, para alavancar a sua carreira no exterior, principalmente na Europa e nos Estados Unidos.

Eu, M’Bonga, já ouvira falar deste autor, mas muito vagamente, em seminários e congressos em que se discutia o surgimento de uma nova e pujante literatura em nossos trópicos.

Assim, em conversas com o De Andrade nos intervalos dos debates, ele me falou que esse poeta o procurara no sentido de restabelecer a velha parceria para este novo projeto intitulado “O Outro Lado do Escuro”. Mas que ele, em função de compromissos assumidos no Brasil e no exterior não poderia pegar esta tarefa no momento, mas que tinha se comprometido com o autor a indicar uma pessoa capacitada e idônea e com livre trânsito nas esferas multiculturais do nosso planeta.

Disse que pensava em mim e, neste congresso internacional, tendo a oportunidade de encontrar-me pessoalmente e achando que eu reunia os atributos para a função resolveu me convidar a ser o novo agente literário do escritor e poeta Milton Rezende, especificamente para este projeto literário de representar o autor nos meios culturais e internacionais onde eu possuía muitos contatos literários, e se assim podemos dizer, um livre trânsito.

Acrescentou que não poderia, ele mesmo, assumir a função porque estava assoberbado de afazeres e, portanto, não poderia levar a cabo este projeto. Sendo assim eu lhe falei, sinceramente, que o convite muito me honrava, mas que eu não me sentia em condições de executá-lo e que passaria a tarefa ao M’Bonga que, apesar de não conhecer o autor em questão, mas já ouvira falar dele e embora não tivesse tido oportunidade de ler nenhum de seus livros, que eram bastantes numerosos, e que se tratava, portanto, de uma obra extensa e representativa.

Então o De Andrade decidiu prontamente que isso se resolvia facilmente e, ato contínuo, entregou-me alguns exemplares dos livros do Milton Rezende e indicou-me o site do autor: www.miltoncarlosrezende.com.br e que era para eu ir conhecendo a obra do poeta mineiro/brasileiro e que, depois disso, eu decidiria quanto a representar ou não este escritor nas lides intelectuais pelo mundo afora.

Eu, M’Bonga, topei a princípio a tarefa e levei os seus livros para o hotel em que estava hospedado para ler e conhecer melhor este autor contemporâneo. Comecei pelo site e, logo de cara, tive a minha curiosidade aguçada em conhecer tão rico acervo. Criei a empatia inicial com o autor pelo que ele era e o que representava para as letras nacionais.
O segundo passo seria ler os seus livros e fazendo isso eu me convenci da necessidade premente de levar este autor estupendo ao conhecimento dos povos do mundo, de onde, eu tinha a vantagem de ter livre acesso em função das minhas atividades pelos fóruns de debate através do mundo todo.

Telefonei então ao De Andrade dando ciência a ele de que eu aceitava essa empreitada cultural.
E assim, dessa forma, acabei me tornando de Índio a agente literário do poeta Milton Rezende e espero com isso levar por onde eu for essa tarefa prazerosa e importante de disseminar o conhecimento deste autor e de sua obra para um público mundial.

© Copyright 2025 Milton Rezende - Todos os direitos Reservados.

HTML Generator